abril 10, 2004

The Lurker “professor emeritus” (ou assim caminha a universidade)

Como vocês sabem (ou talvez não) até recentemente eu era professor ativo em uma grande universidade particular. Ativo antes, licenciado para o doutorado agora.

Em novembro do ano passado eu estava dando minha aula, cuidando de minha vida, quando entre Deming, Juran e o TQC uma aluna de outra turma, abrindo a porta, pediu-me licença para dar um aviso a seus colegas e que o dito “me interessaria” – segundo disse:

Escolhemos os professores homenageados para a formatura... e você é um deles.

Bem, ainda bem que eu estava sentado. De onde eles tiram essas idéias? Professores homenageados, de onde eu venho, são pessoas que contribuem para a evolução de seus campos de saber, com projeção nacional e anos de prática. Não um com pouco mais de quatro anos de cátedra, e isso mesmo se somadas as experiências em diversos campos diferentes... Não me via, de maneira nenhuma, adequado ao título.

Mas a coisa foi a sério e não imaginava que fosse ser tão sofisticada no fim das contas. Pensei que a cerimônia (que foi no final do mês passado, para quem ficou curioso) fosse ser simples. Ledo engano. Toda turma devidamente becada, com direito a becas cheias de frufrus para os professores e o representante do reitor. O paraninfo foi um ex-senador da república que desistiu de seu mandato por conta de uma lista e elegeu-se deputado. Fiquei um tanto preocupado – afinal, havia uma lista de formandos e velhos hábitos demoram a morrer.

Pessoalmente, sempre achei que formaturas, como casamentos e funerais, são coisas que o vivente só deveria ser obrigado a ir em sua própria. Esta, não sendo uma exceção, foi interessante na medida em que pude experienciar a coisa acontecer pelo ângulo da mesa. Nosso deputado listeiro, comparativamente com as diversas oportunidades que tive de ouvi-lo, foi feliz, rápido e direto ao ponto. Seu equívoco foi ter citado Domenico de Masi, o italiano insano. O cara que disse que a humanidade trabalhará cada vez menos e que o “ócio criativo” é uma necessidade humana não pode ser levado a sério por qualquer pessoa que trabalhe 50 a 55 horas por semana. Se existe ócio por aí, alguém está aproveitando a minha parte!

O acontecimento realmente emocionante, para mim, foi a questão que alguns estudantes fizeram de apresentar-me à suas famílias. Em especial, alguns pais que eram bastante efusivos em seus cumprimentos. O que será que esses meninos andam falando em casa?

Finalmente, a parte jocosa do evento foi dizer, na chegada, encontrando dois ou três alunos que passaram em minha disciplina “tirando tinta”:

Mas, peraí: eu APROVEI você?!

As expressões foram, digamos, divertidas: eles sabem... e, espero, o mercado seja capaz de saber também.

The Lurker says: Do not hire a man who does your work for money, but him who does it for love of it.
Henry David Thoreau